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A voz inconfundível volta a preencher a minha sala de estar, como a fotografia da mãe e filha descobertas na multidão pelo amor que nutrem, incapazes de passar despercebidas. A rainha e a princesa. E a casa mantém-se a preto e branco, menos a sala, cheia de carrinhos pequenos do meu pai e três sofás. O que é conhecido sabe a casa. O sofá é o meu porto, o cais que abriga as minhas palavras, não se queixa pelo peso. Como o café para mim é casa. Trocaram os manípulos e acabaram por me trocar as voltas também. Não sei se seria eu caso não tivesse nascido naquelas paredes com cores já antiquadas, era impossível diria eu. Saímos pouco, passeamos pouco mas somos como os ciganos. A alma que cresceu lá e o corpo que sai pela porta da frente são mudados por todas as pessoas que por lá passam. Deixam a marca e abandonam como andorinhas que nunca se esquecem da sua casa por mais que voem. E eu quero ser uma andorinha fugitiva, mas com as raízes bem impregnadas. Árvore que dá fruto e sombra nas tardes de verão. Para os reformados. Para os clientes habituais, que já não é preciso perguntar o que desejam, se é com adoçante ou não, em pó ou pastilha. Para mim e para a minha mariposa, que acende as luzes do fundo.
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