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Tanta chuva que caiu dos céus, e agora parou.
Será que era para lavar as almas dos pecadores, matar a sede ou dar esperança aqueles que se encontram no deserto? Será certo, justo uns ter e outros não? Ver a luz ao fundo do túnel mas depois tirá-la. É como se desse mas depois pedisse em troca o agradecimento, a cruel obrigação do agradecimento.
Acho que já não digo nada que faça sentido. Ando outra pessoa, que nem eu me reconheço, vejo-me a ser mais simpática e amiga, carinhosa com as outras pessoas. Digo mesmo, mais carente. Bem, mas isto passa. Isto e tudo o resto, não passam de instantes que o vento e o mar nos tiram. Que coisa ingrata, coisas nossas que com o tempo nos fogem das mãos, para ir junto das outras memórias esquecidas, que já ninguém se lembra. Porquê é que eu acho que toda a gente tem tanto medo de morrer por causa do medo do esquecimento, com medo que ninguém vá pôr uma florzinha, nem deixar uma lágrima no caixão. Que vida, vivemos e sabemos que vamos morrer, deixar descendentes que hão-de lembrar-se, ou não. Pois fica a sensação que este texto não passa de mais um outro que as pessoas vão ler e pôr junto das outras coisas que com o tempo, com o cansaço, com a esperança foram arrancadas de nós.
Quando nascemos temos uma única certeza, vamos morrer. Preparem-se para não morrerem de medo, medo do esquecimento e das ondas gigantes, do sol forte que queima a pedra, pois podemos ser eternos. Eternos.
http://www.youtube.com/watch?v=7I7-Zj9gKYk ( para quem quiser ouvir)
Mana, estou a construir a minha casa.
É tão difícil encontrar uma casa, sentir saudades de chegar finalmente a algum lado, mas ter saudade é para quem tem, alguma coisa.
Pois então vamos discutir sobre os pormenores, discutir como quem diz! Mas conhecendo-te como ninguém, sei que a maioria das pessoas acha que estás sempre a discutir. Não, nada disso, muito pelo contrário. Não é o teu tom de voz rude nem o teu falar rápido que não deixa falar ninguém, que se pode tirar essa precipitada conclusão. Bem, onde é que eu ia? Ah, os pormenores, pois então que continuemos. Quero uma cama grande e um colchão duro, pois foi uma preferência que ganhei a partir de ti, uma varanda grande que tenha uma vista que corresponda aquilo que eu quero ver. As cores pintadas de cores diferentes? Não, não concordarias, talvez muito alegre para os teus gostos. Sendo tu uma criaturazinha invulgar e peculiar, não estou a dizer que não goste (atenção!), tinha que ser tudo em bom.
Há poucos dias passei por um grupo de raparigas, e comecei-me a rir. Porquê? Fez-me lembrar como somos quando estamos todas juntas a rirmo-nos como umas parvas, todas juntas a dizer asneiras e a chamar atenção de pessoas sisudas.
Tá tá
Mana, estou a construir a minha casa
É tão difícil encontrar uma casa, sentir saudades de chegar finalmente a algum lado, mas ter saudade é para quem tem, alguma coisa.
Estás a ver aquela casa depois do castelo? Ainda não? Eu penso que nem quem seja de cá, do cú do mundo, saiba onde está situada essa tal casa. Então percorre o passeio até veres uma árvore com as pétalas lindas e já cor-de-rosa, pronto, estás aí. Agora atravessa a rua, tem cuidado que não há nenhuma passadeira perto, e precisas de olhar para a direita, para a esquerda e para a direita outra vez, ah, e o mais importante dá-me a mão que eu já estou com a minha à espera da tua [acho que apanhamos este hábito dos pais, ainda agora sempre que passo dou-te a mão e tu a mim, acreditas que até com estranhos tenho que pelo menos pôr a mão nas costas, não lhes ia dar a mão, parece-me a mim muito próximo do habitual], já lá estamos. Agora eu empresto-te os meus olhos. A casa dos três andares está velha e o vermelho que acredito que antes era vivo, está desbotado, sem vida e a tinta da parede às lascas, à espera de um pintor, resumindo. Sonho em viver lá contigo, mas fica já dito que eu fico no segundo andar onde o quarto tem uma varanda. Já sei que não posso pôr as heras a ganharem nas paredes altas que tu morres de medo dos bichos, não faz mal. Quero um baloiço lá fora. Já me chega.
Dia das verdades ditas e disfarçadas com batom muito cor-de-rosa, sombras garridas, disse-me no outro dia a minha Maria que era a moda na altura, mas bem, há pessoas que ficam presas no tempo, mas isso já é outra história, perdi o meu travão, perco o travão todos os dias. Parece-me a mim, uma pessoa que adora mentir, que é um excelente dia. Entre este defeito estão muitos mais, mas descodificar os pontos fracos não é despir a pessoa? Coloca-la nua numa sala cheia de gente, com câmaras para recordar, deixar com que seja impossível esquecer. Vamos aos poucos dizer todas as coisas boas, vamos lá. Tentar juntar os cacos das pessoas, lá dentro, antes, adornados com flores plásticas e postos numa toalha de rendinha. E isto de voltar não deve ser fácil, mas com uma cola mágica deve dar alguma coisa, as coisas mudam. É certo que não podemos estar sempre à espera de mudanças, mas se as já pusermos de lado somos nós quem não mudamos.
Se eu deixar, os outros deixam. Mas se ainda não tinham deixado porquê que só deixaram quando eu finalmente deixei? E se eu não tivesse deixada talvez não tivessem deixado, ou sim. Mas se me tivessem deixado primeiro com certeza que não os deixaria, afinal porque razão é que não os deixava? Porque não queria. Soa tão óbvio. E a pergunta!? A pergunta é qual a razão de não deixar quando de quer deixar? Perdas de tempo, diria eu. Mascarar o que é inevitável descobrir. Então deixem, se quiserem deixar…
Não é que há já alguns dias que me anda a atormentar uma coisa. Ainda não sou capaz de o dizer, mas e que tal escrever cheio de rodeios, metáforas e mentiras para esconder um pouco daquilo que não passa com as horas dormidas? Tenho-me apercebido que sou um daqueles casos que chora pelo leite derramado. Vá não comecem já a julgar, eu explico. O que acontece é o seguinte: tenho fraca memória. Não me lembro dos tempos felizes acompanhados pela figura alta e forte, segura. Não sei como é, desculpem, como foi, o sorriso das boas-noites ou do abraço da manhã. Sei hoje aquilo que me contam, as coisas boas calculo eu, então parece-me que é perfeito. Pelo que vejo nos álbuns que a minha avó guarda lá em casa, eu e a minha irmã herdámos a falha nos dentes. Não vou, nem quero, pôr o nome pois isso não faria diferença. Ainda hoje perguntei, sabendo já a reposta, mas mesmo assim querendo-a ouvir; se gostava muito de mim?. Acho que precisava de ouvir para saber e ter a certeza que fui um orgulho para ele. Lamento ele não estar para ver um pouco mais de mim, um eu mais crescida. Digo eu que ia gostar, mas não o posso dizer com certezas. Sou parecida com a filha, ainda uma menina a transformar-se em mulher e com saudades do avô. Pergunto-me como foi o nosso momento de despedida, mesmo nós não sabendo. Terá sido bondoso e bom de relembrar? Acho que como a criança que era não percebi muito bem.
Hoje, ainda uma menina que adora receber colinho e que tenta fazer de tudo para agradar a avó.
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